Lápis de cor, óleo e acrílico. O autor galego regressou às origens e passou quatro anos em casa a desenhar e pintar 10 mil imagens. "De Profundis" estreia acompanhada de uma curta-metragem narrada por José Saramago Uma toalha de papel, alguns traços distraídos no final de uma refeição, uma personagem. No Verão do ano 2000, o autor de banda-desenhada Miguelanxo Prado almoçava numa esplanada na Galiza com o compositor Nani García quando um dos rabiscos com que decorava a mesa lhe prendeu a atenção: um marinheiro suspenso no oceano contemplava uma enorme baleia que passava por ele - o início desta história. Entusiasmados com a imagem, os dois amigos precipitaram-se a trocar ideias. A toalha encheu-se de notas. À tarde, já em casa, Prado não conseguia esquecer o afogado. Começou a imaginar-lhe uma vida: um pintor fascinado pelo mar que naufraga depois de uma tempestade, viaja até às profundezas e acaba por se encontrar. "Sim, naquele dia começou a imersão", contou ao jornal "El País" há dois anos por ocasião da estreia em Espanha de "De Profundis", o filme que chega às salas de cinema brasileiras. O galego de 50 anos é famoso por livros intimistas como "Traços de Giz" e "Tangências", ou satíricos, como "Quotidiano Delirante". Em 2000 trabalhava entre Espanha e Los Angeles na série de animação "Men in Black: The Series", baseada no filme homónimo produzido por Steven Spielberg. A convite dos responsáveis norte-americanos criara todas as personagens e era aquilo a que do lado de lá do Atlântico chamam "style designer". No entanto, contou, o ano que se seguiu foi de "desassossego interior", de "uma ansiedade inexplicável". O desenho na toalha teria sido um presságio. 10 mil obras de arte A quarta temporada de "Men in Black" terminou em 2001. Prado recusou a proposta para avançar para outra série nos EUA. Regressou à Galiza e embarcou com Nani García num dos mais obsessivos projectos de que há memória, com um orçamento de 1,5 milhões de euros: a produção de "De Profundis". Durante quatro anos, refugiado com o cão na aldeia de Lubre, criou sozinho cerca de 10 mil imagens. Feitas as contas, qualquer coisa como sete quadros por dia a trabalhar fins de semana, férias e feriados.
por Joana Stichini Vilela
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